Brasília-Goiás: população caminha para se tornar uma só




O fluxo de deslocamentos entre Goiás e Brasília está fazendo com que as regiões tornem-se uma só. O fenômeno chamado de “conurbação” foi identificado em estudo divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), tratando da organização territorial do Brasil. Segundo os dados, aproximadamente 200 mil pessoas transitam diariamente entre o Distrito Federal e a Região Metropolitana. Número que corresponde a 7,14% da população do total do DF, de 2,8 milhões de habitantes. 

Em todo o País, os brasileiros que fazem viagens intraurbanas somam mais de 7,4 milhões. O maior movimento entre municípios está entre Guarulhos e São Paulo capital, onde 146,3 mil pessoas se deslocam todos os dias entre as duas cidades. 

Os municípios mais próximos a Brasília e que formam o arranjo populacional são Águas Lindas de Goiás, Planaltina, Mimoso de Goiás, Padre Bernardo, Cocalzinho, Santo Antônio do Descoberto, Novo Gama, Valparaíso de Goiás, Cidade Ocidental e Luziânia. “Quase todas as grandes aglomerações e capitais estaduais diminuíram o ritmo de crescimento nas décadas de 1970 a 2010, com exceção de Rio de Janeiro e Brasília”, aponta a pesquisa. 

Os deslocamentos entre as duas regiões, indica o estudo, podem promover mudanças populacionais, formando uma nova cidade. “A ligação entre Goiânia e Brasília possui 8.835 pessoas se deslocando e, entre estes dois arranjos, situa-se ainda o município de Anápolis (334.613 habitantes). Entre este município e Goiânia, existem 6.039 pessoas se deslocando para trabalho e estudo e, entre ele e Brasília , 2.395 pessoas. Tal fato poderá ser decisivo na formação de uma nova unidade urbana que unirá os arranjos populacionais entre Brasília e Goiânia”, explica a pesquisa. 

Metrópole - A projeção, no entanto, já existe no cenário atual, avalia o doutor em Planejamento Urbano e Regional da Universidade de Brasília (UnB) Neio Lúcio Campos. “Já temos essa metrópole. Ela só não foi institucionalizada”, aponta o docente. “Por isso, do ponto de vista populacional, inclusive, Brasília já pode ser comparada a grandes cidades como São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro”, completa. 

De acordo com o próprio IBGE, a escolha de Brasília para representar o núcleo entre as cidades é explicada por causa da grande concentração urbana local e por ser a cidade mais populosa entre as estudadas no DF e Goiás. A capital chegou a alcançar o 4º lugar na lista nacional dos municípios mais populosos em 2011, ficando atrás apenas de São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador. 

Mobilidade é o maior problema


Ainda de acordo com a pesquisa, o Produto Interno Bruto (PIB), soma de toda a riqueza produzida na região, era de R$ 155,27 bilhões na região do DF em 2010. O setor de serviços é responsável pela maior movimentação econômica. Para cada R$ 100 pagos ou recebidos no DF e nas cidades goianas vizinhas, R$ 82,20 correspondem ao setor, sendo que R$ 48,40 passaram pela administração pública.

Nessa relação econômica, há pontos positivos e negativos, segundo o professor da UnB Neio Lúcio. Por ser uma cidade funcional, Brasília oferece oportunidades de emprego à população vizinha. “Eles produzem aqui e consomem lá”, destaca. Nessa configuração, os principais problemas são o trânsito no DF e a qualidade de vida dos moradores dos municípios goianos. 

“O maior problema, acredito, é justamente o da mobilidade. Essas pessoas precisariam de uma forma mais rápida de se locomover e com mais qualidade também”, diz Lúcio. Para ele, com os extensos engarrafamentos nas principais saídas do DF, os moradores da Região Metropolitana perdem em qualidade de vida. 

Ir e voltar do trabalho

Morador de Águas Lindas (GO), Antônio Carlos Silva Amorim, 38 anos, é encarregado de obras e trabalha no DF. O trajeto de 54 km é feito de ônibus. Ele afirma demorar, em média, uma hora para chegar ao trabalho. “Para evitar o trânsito, eu acordo às 4h30. Se eu demorar, pego um trânsito muito intenso e me atraso para trabalhar”, explica.

A ida, para o trabalhador, é a parte menos cansativa. “A volta é sempre mais demorada, principalmente em dias com chuva, quando já demorei quase três horas para chegar à casa, depois de um dia cansativo no trabalho. Ir e voltar acaba sendo a pior parte do dia”, completa.

Moradores e o transporte

Moradora de Novo Gama (GO), a auxiliar de lavanderia Daniela Roberta Gomes, 33 anos, conta que costuma demorar quase duas horas no trânsito, diariamente, de segunda a sexta. “Isso, sem dúvida, afeta o meu rendimento no meu emprego, pois isso cansa.” Além do cansaço, ela conta que costuma se atrasar constantemente para chegar ao trabalho. De acordo com a auxiliar, o trajeto é feito por uma motivação maior. “Meu sonho é trabalhar por lá (Novo Gama) mesmo, mas não há empregos disponíveis. Então, o jeito é encarar o trânsito e vir para o DF”, ressalta. Para Daniela, sua qualidade de vida melhoraria muito caso trabalhasse na cidade onde mora. “Eu teria mais tempo para fazer mais coisas”, exalta.

Já o morador de Luziânia Elismar dos Santos, pedreiro, 28 anos, revela um problema grave nesse fluxo. “Os ônibus normalmente circulam em condições precárias. Veículos antigos, cadeiras desconfortáveis, falta de estrutura e sensação de insegurança que fica para quem precisa disso para trabalhar e voltar para a casa”, revela. Apesar do reajuste da tarifa, que deixou a passagem a R$ 5,20, pouco mudou. “Falta melhorar muita coisa para valer o preço que pagamos todos os dias”.

Elismar destaca outro problema na locomoção diária: “São poucos ônibus para muitas pessoas. A maioria das viagens é feita com carros lotados. É um absurdo você, logo pela manhã ou após um dia de trabalho, ficar em um ônibus lotado. Isso junto com o trânsito acabam com o trabalhador”.



Fonte: Da redação do Jornal de Brasília
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