Gestante contaminada por zika pegou vírus em Goiás, diz secretário

Ele confirmou que paciente foi infectada em Santo Antônio do Descoberto. Outros 29 casos de pessoas que estiveram em outros estados são apurados


A gestante, cuja identidade não foi revelada, que teve o diagnóstico confirmado para zika vírus, foi contaminada em Santo Antônio do Descoberto, no Entorno do Distrito Federal, onde mora. Segundo o secretário estadual de Saúde, Leonardo Vilela, isso comprova que a doença está circulando em Goiás, o que aumenta a preocupação sobre o combate aos focos do mosquito Aedes aegypti.

“A gente já esperava que o vírus chegasse a Goiás em função do aumento do número de casos no país, em especial no Nordeste. O caso da gestante é o primeiro autóctone, ou seja, ela foi contaminada sem sair da cidade em que mora. Por isso, já foi pedido o bloqueio na casa em que ela mora e em um raio de 150 metros para acabar com possíveis focos do mosquito e evitar novas infecções”, relatou Vilela ao G1.

A reportagem tenta contato nesta manhã com a secretária municipal de Santo Antônio do Descoberto, Wisliane Maximiano, para saber sobre o combate aos focos do mosquito na cidade. No entanto, as ligações não foram atendidas até esta publicação.

No total, 30 casos de zika vírus foram notificados no estado até a manhã desta quinta-feira (17), sendo que apenas o da grávida foi confirmado. Já os demais, que seguem em investigação, são de pessoas que podem ter contraído a doença em outros estados.

Segundo o secretário, a identidade da paciente, que está na 14ª semana de gestação, não foi revelada para preservá-la, mas ela vai receber todo o suporte necessário no Hospital Materno Infantil (HMI), em Goiânia, caso opte por isso.

“Como ela mora no Entorno do DF, ela procurou ajuda médica lá e o diagnóstico ocorreu no Laboratório Central de Saúde Pública [Lacen]. Caso ela queira dar continuidade ao pré-natal em Goiás, todo o aparato estará disponível no HMI. Mas isso ficará a critério dela, já que ela é acompanhada por um profissional na capital federal”, explicou.

Vilela ressaltou que o diagnóstico de zika vírus da gestante só foi possível por que ela procurou ajuda ainda nos cinco primeiros dias de sintomas. “Ela teve febre, dor no corpo e apresentou algumas manchas. O médico desconfiou e pediu um exame de sangue, que atestou a presença do vírus. Mas vale ressaltar que isso não quer dizer que o bebê terá alguma complicação ou tenha microcefalia. Isso poderá ser detectado ao longo da gestação, por isso esse pré-natal será considerado de alto risco e terá de ser feito com muita atenção”, afirmou.

O secretário também destacou que o zika vírus ainda não tem cura e não há um tratamento para evitar a doença. “No caso da gestante, ela será acompanhada e receberá as terapias cabíveis para amenizar possíveis sintomas. Já em relação ao bebê, caso ele tenha alguma complicação, a única coisa que podemos fazer é aplicar essas terapias para que ele tenha uma qualidade de vida. Como essa situação ainda é muito nova, os estudos estão muito recentes, só o tempo para nos dizer quais serão essas sequelas”.

Uma equipe da Secretaria Estadual de Saúde (SES) foi enviada a Pernambuco, onde existem 85 casos confirmados de microcefalia e 920 suspeitos, para conhecimento dos procedimentos adotados em relação aos bebês. “Já tivemos esse cuidado de saber como eles estão lidando com a situação para que, caso haja um surto em Goiás, possamos seguir aquilo que deu resultado satisfatório”, revelou Vilela.

Aedes aegypti tramiste o zika vírus, degue, febre amarela e chikungunya (Foto: AFP Photo/Patrice Coppee)

Combate ao mosquito
Na terça-feira (15), o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), decretou estado de emergência e anunciou a criação de um fundo com R$ 10 milhões para combater o mosquito. Na ocasião, ele também lançou o movimento "Goiás contra o Aedes", que consiste em uma força-tarefa para a realização do trabalho.

A Câmara Municipal de Goiânia também aprovou, em 1ª votação, projeto que dobra o valor da multa a donos de imóveis com criadouros do mosquito. A infração, que variava de R$ 800 a R$ 8 mil, vai passar a girar entre R$ 1,6 mil e R$ 16 mil.

O secretário estadual de Saúde destacou, ainda, que uma frente de trabalho foi realizada em Trindade, na Região Metropolitana da capital, na quarta-feira (16), que serviu como modelo para que ações sejam intensificadas em outras cidades.

“Reunimos mais de 1,2 mil pessoas, entre agentes de saúde, agentes de endemias, representantes da Secretaria de Saúde, do Corpo de Bombeiros, e voluntários, que visitaram 1.888 imóveis. Destes, 512 estavam fechados e não puderam ser vistoriados. Apesar disso, 184 focos do mosquito foram encontrados. Isso reforça ainda mais a necessidade de que a população nos ajude a fazer essa limpeza, pois precisa encarar com seriedade que um simples mosquito pode causar inúmeros problemas de saúde a todos”, disse Leonardo Vilela.

Segundo ele, o objetivo é que, até 31 de janeiro do ano que vem, as 3,12 milhões de residências do estado tenham sido vistoriadas. “Para isso a parceria com o Corpo de Bombeiros é fundamental, pois eles nos oferecem aparatos, como escadas e demais equipamentos, que facilitam as revistas em lugares de difícil acesso. Também vale destacar que a população deve facilitar esse trabalho e quem não o fizer fica até passível a multa”, ressaltou Vilela.
Caso de bebê de Rio Verde está entre investigados por elo com zika vírus (Foto: Reprodução/TV Anhanguera)

Microcefalia
A doença é uma condição rara em que o bebê nasce com o crânio do tamanho menor do que o normal, apresentando perímetro igual ou menor a 32 centímetros. Crianças que nascem com essa malformação podem ter complicações no desenvolvimento da fala, motora e até quadros de convulsão.

A microcefalia pode ter causas genéticas, passadas dos pais para a criança, como também por uso de drogas, álcool ou outros produtos tóxicos durante a gestação, além de possíveis infecções que atinjam o bebê durante a gestação.

Até o último dia 3 de dezembro, o Ministério da Saúde considerava que a malformação existia em bebês com crânios de perímetro igual ou menor a 33 centímetros. No entanto, a partir do dia 4, o órgão mudou o critério e classifica com microcefalia crianças que têm cabeças medindo 32 cm ou menos de circunferência.

A Secretaria Estadual de Saúde registra, até o momento, 28 casos de microcefalia no estado, sendo 18 em Goiânia e os demais nas cidades do interior. Apesar disso, apenas quatro são investigados por ligação com o zika vírus, conforme os dados do Registro de Eventos em Saúde Pública (Resp), em Rio Verde, Pirenópolis, Luziânia e Abadiânia.
A população tem que nos ajudar, pois precisa encarar com seriedade que um simples mosquito causa inúmeros problemas"
Leonardo Vilela, secratário Estadual de Saúde

Além desses, havia um caso sendo apurado em Montividiu, mas que foi descartado em função do tamanho do perímetro cefálico do bebê, que é de 34 centímetros.

No país, segundo informações do último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, 2.165 casos suspeitos de microcefalia foram identificados em 549 municípios de 19 unidades da federação e no Distrito Federal até o dia 12 de dezembro.

O ministério informou ainda que das 29 mortes que eram investigadas por decorrência de microcefalia no país, uma foi confirmada e duas, descartadas. O ministério investiga os outros 26 casos de mortes suspeitas de terem sido causadas pela malformação.

Conforme o órgão,“ainda não é possível ter certeza sobre a causa para o aumento de microcefalia". No entanto, informou que a principal suspeita para o aumento no número de casos da microcefalia seria a contaminação pelo zika vírus, identificada em gestantes na Paraíba, cujos fetos foram diagnosticados com a enfermidade.

Ainda assim, conforme divulgado pelo Ministério da Saúde, “todas as hipóteses estão sendo minuciosamente analisadas e qualquer conclusão neste momento é precipitada. As análises não foram finalizadas e, portanto, continuam em andamento”.

Cuidados
O Ministério da Saúde orienta que grávidas ou mulheres que pretendem engravidar tenham “cuidado redobrado” para evitar infecções virais. Mesmo sem casos registrados no estado, a Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia e a Secretaria Estadual de Saúde reforçam as recomendações do MS para gestantes e mulheres que queiram engravidar.

Entre os principais cuidados, estão: manter vacinas atualizadas, não consumir bebida alcoólica ou outras drogas, não usar medicamentos sem orientação médica, evitar contato com pessoas com febre ou infecções, proteger-se de mosquitos usando mangas longas, mantendo portas e janelas fechadas e usando repelentes permitidos para gestantes (à base de Deet).

O diretor do Departamento de Vigilância de Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, Cláudio Maierovitch, afirmou na última terça-feira (15) que a distribuição de repelentes a mulheres grávidas deve iniciar até o fim de fevereiro do ano que vem, quando o mosquito atinge pico de proliferação. "É uma medida para que elas possam ficar mais protegidas já que não se sabe onde e em que proporção haverá sucesso na estratégia de redução de vetores", afirmou.
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