|  | 
| Brasil e China; bandeiras (Foto: Agência Brasil) | 
Mais da metade do superávit brasileiro é representado pelas relações comerciais com a China, quase dobrando em comparação aos US$ 28,68 bilhões de 2022
Por Hélio de Mendonça Rocha, articulista e repórter de política        internacional | CMG*
      As múltiplas parcerias comerciais entre China e Brasil, que        cresceram no século XXI desde o histórico encontro entre o        presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-presidente chinês Hu        Jintao, em 2004, atingiram em 2023 um de seus melhores feitos em        quase duas décadas. Após estreitados os laços econômicos entre os        dois países, com passos adiante como a criação do Brics e do Novo        Banco de Desenvolvimento (NBD), o Brasil atingiu em 2023 o seu        recorde de exportações na balança comercial entre os dois países.        O feito dá mostras de que o Brasil segue sua trajetória forte como        economia emergente, e a China, longe de viver algum tipo de        desaceleração econômica.
      Os números são do governo federal, divulgados pela Secretaria        de Comércio Exterior (Secex) do Ministério da Indústria e        Comércio. A balança comercial brasileira teve superávit acumulado        de US$ 98,8 bilhões em 2023, atingindo o recorde de seu comércio        exterior, em pesquisa realizada desde 1989. O crescimento é ainda        mais salutar devido à recuperação que ambos os países mostram        desde 2020. Atualmente, mais da metade do superávit brasileiro é        representado pelas relações comerciais com a China, quase dobrando        em comparação aos US$ 28,68 bilhões de 2022. Ou seja, o        crescimento foi de 60,6%, o que amplia a participação do Brasil no        mercado de países emergentes.
      Isso se consolidou com exportações de US$ 339,67 bilhões (+1,7%        ante 2022) e importações de US$ 240,83 bilhões (-11,7%). Segundo a        Secex, o superavit comercial com a China e suas regiões        administrativas especiais de Hong Kong e Macau alcançou US$ 51,83        bilhões no ano passado. O saldo positivo com a Argentina, parceira        mais importante no continente, somou US$ 4,72 bilhões e o com a        União Europeia chegou a US$ 860 milhões. Já com os Estados Unidos,        o Brasil apresentou déficit comercial de US$ 1,09 bilhão.
      Os números são alvissareiros para os dois países. O Brasil        chega a tais cifras com a exportação sobretudo da soja, mas também        de commodities agrícolas como soja e milho, que são        prioritariamente destinadas à alimentação de animais nos países        asiáticos, além de carne bovina. No campo da extração mineral, o        Brasil apresentou números recordistas, também, quanto ao minério        de ferro, sobretudo destinado a sustentar a construção civil da        potência asiática, e petróleo cru, um dos destaques da economia        crescente da potência sul-americana, que recentemente estreitou        relações para entrar na Organização dos Países Exportadores de        Petróleo (Opep), uma das mais poderosas alianças comerciais do        mundo.
      Tanto o Brasil quanto a China têm imensos dividendos a extrair        dessa balança, muito além dos resultados pecuniários. Além de        demonstrar crescimento econômico absoluto, o superávit brasileiro        e a relevância da China neste resultado indicam a recuperação        econômica do gigante da América do Sul, e afastam a possibilidade        de desaceleração de sua principal parceira econômica mundial. Tais        demonstrações de força surgem em momento decisivo, quando a        economia do mundo se diversifica, com perda de hegemonia dos        países ocidentais sobre as trocas comerciais globais, e todo o        tipo de instabilidades políticas que as ações das potências, em        defesa de seus privilégios, têm causado em todas as regiões do        planeta.
      Vale ressaltar que, hoje, o Brasil exerce seu papel no        multilateralismo ao não só se aproximar do continente asiático,        mas também voltar-se para a sua própria área de influência, tendo        na Argentina o seu segundo mais importante parceiro. Algo similar        ao que faz a potência oriental, voltando-se também para o seu        continente, exercendo o poderio de sua grandeza populacional e        territorial para tecer relações complexas e diversas com dez        países fronteiriços, no caso do Brasil, e quatorze países        fronteiriços terrestres, no caso da China. Se o número de        fronteiras chinesas é maior, as brasileiras respondem por maior        parcela do próprio continente, havendo apenas dois países        sul-americanos (Chile e Equador) não fronteiriços com o Brasil.        Somando abrangência local e intercâmbio internacional em sua        influência no mercado global, Brasil e China asseguram seu caminho        como emergentes, podendo planejar, em questão de décadas, seu        papel como países desenvolvidos num mundo multilateral.
      Vale lembrar que um novo estreitamento de laços entre os dois        países ocorreu em março de 2023, quando o recém-empossado        presidente Luiz Inácio Lula da Silva, viajou à China para        encontrar-se com o presidente Xi Jinping e ajudar o Brasil a        firmar diversos contratos envolvendo 240 megaempresários        brasileiros. Historicamente alinhado ao projeto internacional        liderado pela China, o qual em muitos momentos ajudou a construir,        Lula tem demonstrado intenções em seguir se aproximando e, quando        em Beijing, demonstrou interesse em integrar à Iniciativa Cinturão        e Rota proposta pela China. Os números atuais mostram que este        passo, que ainda está em discussão, tenderá a render mais frutos        assim que for dado.
      *Publicado originalmente na Rádio Internacional da China
    


