Jovem e sem histórico de doenças, vivi o improvável: um acidente vascular cerebral isquêmico aos 22 anos; meu relato é um alerta neste 29 de outubro, Dia Mundial de Combate ao AVC
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foto: Alberto Ruy
Tentei seguir o dia
normalmente, fui para o trabalho e, ao tentar conversar, percebi que a língua
não obedecia. As palavras saíam confusas. Procurei socorro imediatamente. O
diagnóstico veio rápido: Acidente Vascular Cerebral (AVC) isquêmico, algo que
jamais imaginaria viver tão jovem.
Nos dias seguintes, o
impacto real apareceu. Perdi parte da memória, lembrava quem eu era, mas não o
que havia vivido naquele período. Era como se pedaços da minha história
tivessem sido apagados. Também perdi a fluência em idiomas que dominava, algo
que os médicos explicaram ser possível devido à região do cérebro afetada.
Fiquei com paralisia no
lado esquerdo do rosto e no braço por cerca de seis meses. A fisioterapia, os
exercícios diários e o apoio da família foram essenciais para a recuperação.
Hoje, com o corpo reabilitado e a memória reconstruída pouco a pouco, entendo o
quanto é importante reconhecer os sinais e agir rápido.
Casos de AVC em jovens
crescem no mundo
O Dia Mundial de Combate ao
AVC, celebrado nesta quarta-feira (29), reforça a importância da prevenção e do
diagnóstico rápido dessa condição que continua entre as principais causas de
morte e incapacidade no mundo. A campanha global deste ano traz o lema “Cada
minuto conta”, destacando a urgência de reconhecer os sinais precoces e agir
imediatamente diante de qualquer suspeita.
Segundo a neurologista
Letícia Rebello, referência nacional em AVC e coordenadora do programa AVC no
Quadrado, da Secretaria de Saúde (SES-DF), o aumento de casos entre jovens está
relacionado principalmente ao estilo de vida e à prevenção tardia.
“O que antes representava
fatores de risco típicos de idosos, como hipertensão e diabetes, está
aparecendo cada vez mais cedo”, pontua a médica. “Hábitos de vida pouco
saudáveis e condições ambientais contribuem para esse aumento. Por isso, a
prevenção e o diagnóstico rápido são fundamentais.”
Nos últimos anos, o número de AVCs entre pessoas mais jovens tem aumentado de forma preocupante. Um estudo publicado pela revista científica The Lancet Neurology em outubro de 2024 apontou um crescimento global de 14,8% nos casos de AVC em pessoas com menos de 70 anos.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) e a World Stroke Organization (WSO) alertam que o AVC já está entre as principais causas de morte e incapacidade em adultos entre 15 e 49 anos, com impacto crescente em países em desenvolvimento.
O alerta é global, mas
também está cada vez mais próximo de nós. No Brasil, dados da Rede Brasil AVC
indicam que cerca de 18% dos casos registrados ocorrem em pessoas de 18 a 45
anos, um índice alto para uma faixa etária que tradicionalmente não se via em
risco.
A neurologista da SES-DF
ressalta que o programa AVC no Quadrado ajuda a garantir que cada vez mais
pessoas tenham acesso rápido ao diagnóstico e tratamento. “Além disso, o
programa vem para organizar o atendimento intra-hospitalar para tratar mais
pacientes, no menor tempo possível”, aponta. “Uma vez que o tempo é um grande
inimigo do AVC, quanto mais cedo for o atendimento, e mais rápido o tratamento,
maiores as chances de recuperação e menores as sequelas”.
Tipos de AVC
O AVC acontece quando o
fluxo de sangue para o cérebro é interrompido ou comprometido, causando a morte
de células nervosas na região afetada. Existem dois tipos principais: o AVC
isquêmico, como o que tive, que ocorre quando um vaso sanguíneo é obstruído, e
o AVC hemorrágico, causado pela ruptura de um vaso cerebral. Cada tipo
apresenta riscos e sequelas diferentes, mas ambos exigem atenção imediata:
quanto mais rápido o diagnóstico e o tratamento, maiores as chances de
recuperação.
Para o neurologista Carlos
Uribe, do Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal
(IgesDF), é urgente desfazer a ideia de que o AVC é uma doença exclusiva da
terceira idade.
“Ser jovem não protege
ninguém do AVC”, observa. A rotina sedentária, o estresse e os hábitos
alimentares também têm peso importante.”
Veja abaixo os principais
sintomas de AVC listados pelo médico.
⇒ Dormência ou fraqueza em um lado do corpo
⇒ Boca torta
⇒ Dificuldade para falar ou compreender
⇒ Perda de visão, escurecimento ou visão dupla
⇒ Tontura, perda de equilíbrio ou confusão mental
⇒ Dor de cabeça súbita, intensa ou diferente do habitual.
Porque meu alerta importa
Eu vivi o que parecia improvável. Passei por meses de reabilitação,
reaprendendo a movimentar o corpo e reorganizar a mente. Tive medo, dúvidas e,
por um tempo, senti que havia perdido parte de quem eu era. Mas hoje, depois de
20 anos, ao contar minha história, quero que outros reconheçam os sinais e ajam
rápido.
O meu AVC foi um divisor de
águas. Hoje, com saúde e gratidão, transformo aquele episódio em propósito:
alertar outros jovens para que reconheçam os sinais e não hesitem em buscar
ajuda. Porque o AVC não tem idade, e, às vezes, o primeiro sintoma é acreditar
que ele nunca vai acontecer com você.
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