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| O tenente-coronel, Mauro Cid, depõe na CPI da Câmara Legislativa do Distrito Federal. Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil | 
Militar estava em liberdade desde setembro
Por André Richter - Repórter da Agência Brasil
      O tenente-coronel do Exército Mauro Cid (foto) corre o risco de        perder os benefícios garantidos ao assinar acordo de delação        premiada com a Polícia Federal (PF) para escapar da prisão em        função das investigações que o envolvem juntamente com o        ex-presidente Jair Bolsonaro.
      O ex-ajudante de ordens de Bolsonaro voltou a ser preso ontem        (22) por determinação do ministro do Supremo Tribunal Federal        (STF), Alexandre de Moraes, após a revista Veja divulgar mensagens        de áudio nas quais o militar criticou a atuação do ministro e da        PF.
      Segundo o STF, Cid descumpriu medidas cautelares pactuadas no        acordo ao fazer as declarações. O militar também vai responder        pelo crime de obstrução de Justiça. Ele está preso no batalhão da        Polícia do Exército, em Brasília.
      O militar estava em liberdade desde setembro do ano passado,        quando assinou acordo de delação e ganhou o direito de responder        em liberdade aos processos que tramitam contra ele.
      A partir da nova prisão, os investigadores da PF passaram a        avaliar se os benefícios concedidos a Cid serão mantidos. A        decisão final será do Supremo. 
      Cid assinou acordo de colaboração premiada após ter sido preso        no ano passado pela investigação que apura fraudes em certificados        de vacinação contra a covid-19. Além do caso referente às vacinas,        Cid cooperou também com o inquérito sobre uma tentativa de golpe        de Estado que teria sido elaborada no alto escalão do governo        Bolsonaro.
      Rescisão
      Se a Polícia Federal concluir que Mauro Cid não cumpriu as        obrigações do acordo, o ex-ajudante de ordens poderá ser alvo de        um pedido de rescisão da colaboração. A medida não anularia a        delação, mas cancelaria os benefícios, entre eles, o direito de        permanecer em liberdade.
      A rescisão de delações premiadas já foi utilizada em outras        grandes investigações. Em 2017, o então procurador-geral da        República, Rodrigo Janot, pediu a rescisão da delação dos        executivos do grupo J&F.
      Na ocasião, os empresários Joesley e Wesley Batista foram        acusados de omitir informações durante a celebração do acordo. Em        2020, o acordo foi restabelecido após os acusados se comprometerem        a pagar cerca de R$ 1 bilhão de multa.
      Áudios
      De acordo com a reportagem da Veja, Cid afirmou que foi        pressionado pela PF a delatar episódios dos quais não tinha        conhecimento ou "que não aconteceram". O ex-ajudante também        afirmou, segundo a publicação, que a Procuradoria-Geral da        República e o ministro Alexandre de Moraes, relator das        investigações sobre o militar no STF, têm uma "narrativa pronta" e        estariam aguardando somente o momento certo de "prender todo        mundo".
      Ontem, Cid foi chamado a explicar as declarações durante        audiência judicial presidida por um juiz auxiliar do gabinete de        Alexandre de Moraes.
      O ex-ajudante confirmou na audiência que enviou a mensagem de        áudio a amigos em tom de "desabafo". Ao contrário do que disse nas        mensagens, o militar reafirmou que decidiu espontaneamente delatar        os fatos que presenciou durante o governo Bolsonaro e que não        houve pressão da PF ou do Judiciário para fazer as acusações.
      Cid não revelou para quem mandou o áudio com as críticas a        Moraes e a PF. Ao optar por não informar com quem falou, o        tenente-coronel será alvo de nova investigação.
      Defesa
      Após a divulgação da matéria de Veja, a defesa de Mauro Cid        também alegou que os diálogos foram feitos em tom de desabafo.
      Os advogados disseram que as falas "não passam de um desabafo        em que relata o difícil momento e a angústia pessoal, familiar e        profissional pelos quais está passando".
    


